Você sabe o nome de um cientista brasileiro? Essa foi uma das questões feitas para cerca de dois mil jovens em uma pesquisa realizada pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE). O resultado apontou que 90% dos brasileiros não sabem dizer o nome de nenhum pesquisador.
A falta de familiaridade com a ciência está no dia a dia das pessoas. Fica evidente em questões simples, como entender a função de um antibiótico: 73% dos entrevistados responderam que o medicamento serve para combater vírus, quando na verdade atuam em infecções bacterianas.
Os jovens também apontaram uma dificuldade em identificar a veracidade de conteúdos relacionados à ciência e tecnologia. Eles se dizem inseguros para avaliar se uma informação é ou não fakenews. É como se o nosso conhecimento e educação trabalhassem ainda de forma analógica, mas em plena era digital.
Ainda assim, mesmo sem conhecimento cientifico, os jovens apostam na ciência. A maioria dos entrevistados acreditam que os investimentos em ciência devem aumentar no Brasil, inclusive nas universidades. As novas gerações – mesmo que de forma intuitiva – vislumbram um futuro pautado na ciência.
Esse é um olhar impetrado por governos como o da Alemanha, por exemplo, que anunciou o investimento de 160 bilhões de euros no ensino superior e na pesquisa científica entre 2021 e 2030. Em média, esse valor representa 2 bilhões de euros a mais por ano, na comparação com 2019.
No Brasil, no entanto, assistimos o contrário: desde 2016, o orçamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) passou de R$ 1 bilhão para bolsas, para R$ 784 milhões em 2019. A queda vai contra a estratégia de países desenvolvidos, que são ricos justamente porque investem massivamente em ciência e tecnologia.
Para driblar a falta de familiaridade do público geral com a ciência e promover o setor, realizamos uma parceria com cientistas brasileiros, que frequentemente colaboram com conteúdo científico em minhas mídias sociais. A ideia do AmaraCiência é incentivar o investimento brasileiro em ciência e pesquisa, além de informar a população de forma simples.
Essa é uma inciativa que também já fizemos com o tema das doenças raras, atendendo ao pedido de diversas associações e pacientes, que vivem à margem de informação sobre diagnostico e tratamento no que tange o universo dos raros, que são muitos.
Na esfera legislativa, também estamos trabalhando com o apoio da cientista Mayana Zatz – uma das poucas cientistas no Brasil cujo nome é frequentemente lembrado pela população, para viabilizar um projeto que institua uma espécie de Lei de Incentivo à Ciência. A ideia é que pessoas físicas ou jurídicas, que queiram investir em ciência e não façam parte desse universo, possam fazê-lo por meio de incentivo fiscal. Lembrando que isso não deve mudar o investimento do governo, mas sim funcionar como um adicional.
Costumo muito dizer que a Ciência, diferente de uma obra, não pode ser retomada sem grandes prejuízos. E o Brasil tem potencial para ser um país referência em ciência. Temos um corpo cientifico de peso e renome internacional. Não podemos mais exportar nossos cérebros. Pelo contrário, precisamos investir em nossos pesquisadores e extrapolar as barreiras dos centros acadêmicos e laboratórios, levando o conhecimento cientifico à massa, mostrando aos nossos jovens que o saber também é cool.
A ciência caminha tanto ao lado das descobertas mais corriqueiras, quanto das mais complexas e avançadas. Ela é parte das novas gerações, dialoga com as tecnologias, com os avanços e, principalmente, ela é o futuro de um mundo mais inclusivo, participativo e facilitador.
Mara Gabrilli, é deputada federal e presidente da Frente Parlamentar Mista de Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras. Publicitária e psicóloga, também foi vereadora na Câmara Municipal e Secretária da Pessoa com Deficiência da Prefeitura de São Paulo.